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O Príncipe e a Guerra dos Tronos

Posted by alovose on 08:12
Depois da releitura de "O Príncipe" do querido Niccolò Macchiavelli (vale ressaltar que a releitura esclareceu mil coisas que não entendi da primeira vez), não pude deixar um momento se quer de relacionar com o cenário da série "A Guerra dos Tronos". E achei fantástico o modo como foi fácil relacioná-los.

O livro está dividido em 4 partes (mas eu quero falar só de duas): a primeira faz análise dos diversos tipos de principados (ou governos), os meios de conseguir conquistá-los e como mantê-los após a conquista. Maquiavel diz que existem dois tipos de príncipes, o natural (hereditário) e o novo (não-hereditário). Ambos enfrentam dificuldades para manter o reino, entretanto, o príncipe natural possui dificuldades menores já que para ter sucesso, basta manter os costumes de seus antepassados (claro, não só isso, mas o essencial está aí). O príncipe novo é o que mais encontra problemas, já que na maioria das vezes conquista o reino por meio de batalhas "injustas" (ele não tem o direito ao trono já que não é da linhagem real ou pelo menos não está na linha de sucessão) e o poder conquistado é usurpado. Os perigos de não aceitação do novo príncipe são gigantescos, uma revolta no reino é iminente, ora por conta do descontentamento ora pela crença do povo no bem-estar futuro que esse príncipe possa trazer, criando  ilusão e a posterior revolta após promessas não serem cumpridas e/ou mantidas. Robb Stark quando assume  Winterfell é aclamado pelo povo, aliás, é bem aceito. Tudo ocorre com normalidade, Robb é próximo Stark da linha de sucessão. Ele mantém os costumes do pai Eddard Stark. Esse é o príncipe hereditário. Entretanto, para os mais avançados na série, Theon Greyjoy assume, por meio de um ataque surpresa e bastante arriscado, o castelo. A revolta do povo de Winterfell é monstruosa, sendo estes responsáveis por diversos atentados no castelo contra os novos ocupantes. Em "O Príncipe", Maquiavel diz que quando ocorre essa troca de figura do poder, é essencial para o novo príncipe manter os costumes, leis e impostos, sem extinguir a linhagem do príncipe (desde que não provoque problemas). O Príncipe deve habitar no local conquistado para conseguir acompanhar as desordens do castelo e conseguir reprimi-las com velocidade, de modo que deve buscar sempre conquistar o "amor" dos súditos. Theon fez tudo isso, mas ao contrário, embora tenha falhado na extinção da linhagem real dos Stark. Ele até tentou morar no castelo, e tentou reprimir as desordens (causadas por ele mesmo após invadir o castelo), mas as decisões que tomava o afastavam da possibilidade de conquista do amor do povo, já que comumente decidia por decapitar quem quer o desrespeitasse e não o aceitasse como Senhor de Winterfell. [é cada uma, viu]

Não que Maquiavel não consentisse com a crueldade do jovem Theon, (até porque "os fins justificam os meios") mas havia "porém's", casos e casos. Como Theon conquistou Winterfell com um pequeno número de soldados (é essa palavra? vixe), dias depois, os vassalos de Winterfell reuniram-se no lado de fora do castelo para expulsar Theon de lá. Segundo Maquiavel, todo reino fácil de conquistar é difícil de manter, e inverso também vale. Quando os principados são conquistados por meios criminosos, levam à conquista do poder, mas não a glória. E Theon sentia-se muito desgostoso, mesmo após estar no trono do Gelo.Visivelmente preocupado, já que não dispunha de muita força para combater, Theon (burro) contratou um mercenário para buscar outros mercenários que iriam compor sua tropa e então enfrentar os vassalos de Winterfell. Maquiavel diz: cuidado com forasteiros potencialmente fortes. Os mercenários até conseguiram destruir os vassalos dos Stark. Entretanto, após o combate, voltaram para o castelo e mataram Theon e sua corja. Novamente, Theon não fez a lição de casa. Vale ressaltar que além de ter ocupado o trono de Gelo, Theon fez com que acreditassem que (ele mesmo) extinguiu a linhagem Stark, expondo em lanças as supostas cabeças dos pequeninos Stark: Rickon e Bran. E creio eu, este foi o estopim da revolta entre quem estava dentro do castelo e os de fora (vassalos) contra Greyjoy.

Entretanto, o que Theon teve de burro, Robert Baratheon compensou com astúcia. Quando destruiu os Targaryen - dos dragões e do fogo - (muito antes de tudo o que foi dito acima acontecer), Robert não era da linhagem real. Conquistou o reino de Westeros (os Sete Reinos) com muita dificuldade, porém com armas próprias e mais: ele era o líder da tropa. Embora até o final de sua vida tenha agido com certa displicência e à beira de "porres" e extravagâncias, foi um bom Rei. Não oprimiu o povo. Agia entre eles e foi o que a gente conhece hoje como um líder carismático. Carismático? Será? Aceito objeções. Mas em comparação de Robert com Joffrey (suposto filho de Robert com Cersei, que é na verdade fruto do incesto de Cersei com seu irmão Jaime), Robert foi Jesus na causa. Bem, só pra citar os diversos exemplos no livro que podem ser utilizados. Voltarei para o caso Greyjoy.

Em suma, Theon deveria ter o povo como amigo, mas como foi negligente, teve o povo como inimigo. Confiou demais nos mercenários e perdeu o que conquistou pagando com a própria vida. O que se pode concluir que: ao assumir o poder de um lugar novo, deve-se buscar a confiança das pessoas e não suscitar o ódio das mesmas. Não se deve (logo de cara) querer mudar os costumes do local. Se quer fazer isso, faça lentamente. Opa, mas Macc (pros íntimos) diz que: se quer fazer o mal, faça-o de uma vez só. Mas quem disse que a mudança é um mal?! Nem sempre. Depende dos objetivos de quem governa e depende do modo como a mudança é empregada. Mas no sentido organizacional, modificar a cultura de uma empresa é muito difícil, de modo que, eu acredito, deve ser feita lentamente, até mesmo por conta da aceitação. Vai mudando aos poucos e as pessoas nem se dão conta, de repente, dominay. Ah sim, pensamento super maquiávelico esse meu. E arrisco até transpassá-lo para outras ocasiões que não militares tampouco organizacionais, mas tudo bem.

Vou deixar a outra parte para outro post, que é a parte em que Maquiavel fala da conduta do Príncipe.

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